Sauvignon Blanc – Quebrando Clichês

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Nos últimos 20 anos, a variedade Sauvignon Blanc alcançou uma distribuição muito alta em todo o mundo, acima de tudo após o surgimento de vinhos fortemente aromáticos da Nova Zelândia, país carro-chefe desta casta, que é de longe seu  maior produtor. Graças ao clima frio e seco que prevalece em suas áreas vitivinícolas, desenvolveu uma espécie de sauvignon blanc que dominou o mercado e no qual o Chile apresenta um estilo semelhante a um preço razoável. O aroma herbáceo, por vezes de aspargos em safras ou zonas excessivamente frias, move-se entre o pêssego e o que os ingleses chamam de groselha, amora, passando pelo maracujá e gramínea. No Chile, nós o descrevemos como grama cortada, suor de cavalo, xixi de gato e, mais precisamente para o meu gosto, pimenta verde, folha de tomate, toranja e flor de sabugueiro.

Os aromas da Sauvignon Blanc tem origen em quatro moléculas, mas é o chamado 4 MMP (4 Mercapto-4 Metil Pentan – 2 Ona), além do A3MH e 3MH que lhe conferem aquele aroma intenso e delicioso tão característico.

Até aí tudo bem. No entanto, essas moléculas são altamente voláteis e se perdem fácil e rapidamente com o passar do tempo e as altas temperaturas. Daí o clichê que indica que os vinhos desta casta devem ser consumidos jovens e sem envelhecer em madeira, pois esconderiam estas moléculas tão aromáticas.

Mas na variedade está o sabor, e o Sauvignon Blanc não nasceu há 20 anos, mas há séculos! Ainda não se sabe se foi em Bordeaux ou no Loire, regiões onde encontramos os seus expoentes mais “tímidos” e aromáticos mais contidos. E, como “menos é mais”, aqui não há abundância de poder aromático, mas sim elegância, volume e frescor em boca.

Pessoalmente, creio que os vinhos Pouilly-Fumé e Sancerre representam o melhor desta casta, com notas mais frutadas que herbáceas, onde a mineralidade do vinho se destaca com notas de pólvora, principalmente quando as vinhas são plantadas em solos de sílex.  Além disso, muitos deles são fermentados em tanques de madeira sem perder esse caráter. Em outras palavras, eles são menos impressionantes, mas mais agradáveis.

Pensando nisso, desde 2008 Morandé decidiu fazer um Sauvignon Blanc mais gastronômico e que não obrigasse o consumo no mesmo ano de produção, mas tem capacidade de evolução.  Ainda mais: que o Sauvignon Blanc  ganhasse complexidade com o uso da técnica. Estávamos dispostos a sacrificar um pouco de aroma para ganhar volume em boca.

Para a sua produção, selecionamos uma parcela de nosso vinhedo mais antigo no setor frio de Ovalle em Casablanca. O suco turvo da fermentação deu-nos as borras finas para aumentar o volume de um vinho que mostra uma austeridade francesa no nariz, mas ao mesmo tempo tem a exuberância frutada típica dos vinhos do Novo Mundo. Fermentado em fudres de carvalho francês e também uma parte em ovos de cimento, a temperaturas pouco  superiores às habituais para estilos de impacto, nasceu nosso Gran Reserva, um vinho que resume os benefícios desta casta, levando-a a patamares superiores em complexidade e sutileza.

 

Ricardo Baettig

Enólogo Viña Morandé

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